domingo, 14 de junho de 2015

Novos livros, entre Évora e Mértola

Há dias assim. Precisávamos ter o dom da ubiquidade para poder acompanhar os amigos em ocasiões que sabemos, por experiencia própria, serem particularmente importantes. No nosso campo de trabalho, publicar um livro de maior ou menor fôlego, representa vencer mais uma etapa, atingir uma meta importante num percurso pessoal quantas vezes feito a pulso e com grandes dificuldades, circunstancia que dá especial significado a estes momentos, partilhados com amigos e companheiros de ofício ou de interesses. É verdade que nestas ocasiões também está presente o lado social, mais ou menos interessante enquanto contributo importante de divulgação cultural, mais ou menos displicente enquanto oportunidade para uns quantos se mostrarem ou serem vistos.Vem tudo isto a propósito de na passada sexta-feira (12 de Junho) terem coincidido dois eventos desta natureza a que gostaria de não falhar. Em Évora, no museu, o Vitor Serrão apresentava o seu mais recente trabalho "Arte, religião e imagens em Évora-no tempo do Arcebispo D.Teotónio de Bragança, 1578-1602" e em Lisboa, no MNA,a equipa de Mértola, de uma assentada, divulgava mais quatro livros, produzidos no âmbito do projecto iniciado quase há quatro décadas por Cláudio Torres na vila alentejana. "Catálogo geral do Museu de Mértola", "Memória dos sabores do Mediterrâneo", "Entre Roma e o Islão" e "Cerâmica islâmica de Mértola". Naturalmente, alguns destes livros tinham sido editados já há algum tempo e o lançamento do último, da autoria de Susana Gomez, acontecera há poucos dias em Évora, no contexto de uma importante exposição versando a temática da herança islâmica eborense actualmente aberta ao público no Convento dos Remédios desta cidade. Ligam-me antigos e sólidos laços de amizade com toda a equipa de Mértola, praticamente desde o início do projecto, na medida em que através das minhas diferentes funções, primeiro em Lisboa no Departamento de Arqueologia do IPPC, depois em Évora, no Serviço Regional de Arqueologia do Sul, não faltaram ocasiões em que foi necessário, de alguma maneira e no que estava ao meu alcance, dar uma mãozinha à "malta de Mértola". Ou porque, (sobretudo nos primeiros tempos), o projecto não agradava politicamente a certas entidades com algum poder de decisão no estabelecimento de prioridades na hora de atribuir os magros subsídios à arqueologia, ou porque as questões burocrático-administrativas, que não eram de facto o forte do Cláudio Torres, por vezes precisavam de um empurrãozinho para se desbloquear. Apesar disso, acabei por optar por ficar em Évora e assistir ao lançamento do livro do Vitor Serrão. Afinal, somos colegas de curso  na Faculdade de Letras de Lisboa (1970-75) colegas de estudo desde o primeiro ano (graças à biblioteca do pai Joaquim Veríssimo Serrão)  mas também  companheiros de alguma pândega estudantil e, finalmente, ambos parte da tal geração do Tejo, que apesar dos caminhos diferenciados que cada um seguiu, se forjou no trabalho de campo da descoberta e registo da arte rupestre do Ródão. Uma outra razão me fez optar pela obra do Vítor. Afinal, trata de uma figura (D.Teotónio de Bragança) que na esteira de André de Resende e antecipando-se a Frei Manuel do Cenáculo, terá tido um papel importante e até hoje quase ignorado, na construção de uma "pré-arqueologia" alentejana, um tema que pelas mais variadas razões me interessa. Jà conhecia um dos capítulos que o Vítor tivera a amabilidade de me enviar e, desde essa altura que aguardava a oportunidade de o ler na totalidade. Certamente daí virão algumas deixas para novas entradas neste "blog" que, por muitos e variados afazeres, tem estado algo parado nos últimos dias.


A apresentação do livro de Vítor Serrão no Museu de Évora. A edição contou com o apoio da Fundação da Casa de Bragança, o que explica a presença e intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa, na qualidade de presidente da dita Fundação. Na mesa para além do Director do Museu e do autor, a Directora Regional de Cultura do Alentejo e Miguel Soromenho que fez a apresentação da obra.
O convite para a sessão no MNA
Em Évora (4 de Junho) no Convento dos Remédios, intervenção de Cláudio Torres por ocasião da apresentação pública do livro "Cerâmica Islâmica de Mértola", da autoria de Susana Gomez, também na foto.

Sem comentários:

Enviar um comentário