segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A Escola de Música da Sé de Évora- XVIII Jornadas


No actual contexto e com a acumulação de dificuldades dos últimos anos, a realização das XVIII Jornadas de Música da Sé de Évora, teoricamente as da "maioridade", pareciam uma missão impossível. Depois de já em 2014 se ter cortado nos dias (também por força do fim do feriado do 5 de Outubro que, em conjunto com o fim de semana vizinho permitia essa pequena folga aproveitada por muitos "habitués" portugueses) este ano, por falta de apoio da DG Artes que praticamente ignorou o Alentejo na política de apoios pontuais, cortou-se no cachet dos maestros (os portugueses fizeram voluntariado e o Peter Philips aceitou vir a preço de saldo) e em tudo o que poderia ser considerado menos necessário. Por fim, a marcação das eleições para 4 de Outubro parecia ter dado a machadada final na edição de 2015, prejudicando a vinda de coralistas de regiões mais afastadas. Valeu o interesse de um alargado grupo de espanhóis, amantes da música antiga, e o apoio possível da Direcção Regional de Cultura, para que fosse possível concretizar as jornadas, este ano dedicadas à obra de FILIPE DE MAGALHÃES (1589-1604), mestre da Claustra da Sé de Évora, ele próprio provavelmente aluno do Colégio dos Moços do Coro da Sé de Évora e protegido de D.Teotónio de Bragança, o arcebispo de Évora, mecenas das artes e tio de D.João IV, a cuja actividade recentemente Vitor Serrão dedicou importante obra já referida neste blog ("Arte, Religião e Imagens em Évora, no tempo do Arcebispo D.Teotónio de Bragança, 1578-1602"). Vitor Serrão aborda o papel das "artes" (arquitectura, pintura, escultura) no processo de catequização em tempos de "Contra-reforma", a que poderíamos acrescentar o importantíssimo papel da música nesse mesmo processo de "controle ideológico" através dos sentimentos religiosos, duma população praticamente analfabeta. Não posso esquecer a magnífica imagem do Armando Possante, um dos maestros voluntários das XVIII, associando a sucessão anciosa de entradas dos vários naipes na lindíssima peça de arrependimento "Commissa mea pavesco", (noli me condemnare..., noli me condemnare...noli me condemnare_ não me condenes, Senhor) às representações barrocas do inferno, onde as almas aflitas se atropelam umas às outras para fugirem das chamas e se chegarem ao Salvador...). A música, é de facto, tal como a arte em geral, quando apreciada no contexto social da época, uma ponte extraordinária com o passado... Verdadeiro património vivo! Para memória futura aqui ficam algumas imagens destas XVIII Jornadas, na esperança de que, apesar do duche frio de 4 de Outubro, em 2015 aqui se possa falar dentro de um ano, das XIX.


Pedro Teixeira, o Director Artístico das Jornadas e Armando Possante, chegam ao Convento dos Remédios para mais um "atelier".

Armando Possante dirige uma das sessões práticas.

Intervalo no pequeno mas interessante claustro dos Remédios, para descanso das vozes e conforto dos estômagos
Um dos inquilinos do claustro dos Remédios que, tal como os morcegos da Igreja, não acham muita graça, à música polifónica.

Atelier dirigido por Pedro Teixeira, antigo Maestro do Coral Polifónico Eborae Musica (1997-2013), onde sucedeu a Francisco d'Orey e Adelino Martins. Actualmente o Coro é dirigido por Eduardo Martins.

Os maestros Armado Possante, Peter Philips e Pedro Teixeira, conferenciando com Helena Zuber, a "alma" das Jornadas.



Imagens do Concerto  do "Capella de Ministrers" (Valencia, Espanha), sob a direcção de Carles Magraner. Uma belíssima mostra da associação entre as vozes e os instrumentos, uma realidade comum na liturgia barroca portuguesa mas pouco conhecida e que foi lembrada por Paulo Esudante na sua excelente e participada conferencia de abertura das Jornadas.




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