segunda-feira, 14 de dezembro de 2015




Foz do Enxarrique e Cobrinhos

Nas últimas semanas, por razões diferentes mas ambas positivas, o Paleolítico do Ródão voltou a ser notícia. No final de Outubro graças a um link divulgado na ARCHPORT (https://www.academia.edu/17273721/Cobrinhos_A_New_Mousterian_Site_in_Vila_Velha_de_R%C3%B3d%C3%A3o_Portugal_) era dado a conhecer um novo e invulgar sítio Mousteriense (Paleolítico Médio), próximo do sítio da Foz do Enxarrique e descoberto por Francisco Henriques no âmbito dos trabalhos de instalação de uma nova fábrica de papel naquela região. A notícia remetia-nos para um poster apresentado em reunião científica nos Estados Unidos, que aqui reproduzimos e assinado por Telmo Correia, João Caninas, Emanuel Carvalho, Olívia Figueiredo, Francisco Henriques, Daniela Maio, Cátia Mendes, David Nora, Eduardo Paixão, André Pereira e Luis Raposo. Desta vasta equipa destacamos naturalmente o Francisco Henriques, um rodense de gema apaixonado pela arqueologia desde que, praticamente como adolescente começou a acompanhar os estudantes do GEPP que, a partir da velha pensão "Castelo" do Porto do Tejo, se dedicaram num primeiro momento à Arte Rupestre e após a construção da barragem do Fratel, ao estudo do riquíssimo Paleolítico da região. Recordemos que a descoberta do Enxarrique, no decorrer de uma sortida piscatória, já se ficara a dever nos anos 70 ao Francisco Henriques que, pese embora a sua paixão pela Arqueologia e pela Etnologia acabaria por seguir uma carreira profissional no âmbito da enfermagem, de que entretanto se aposentou. Destacamos também o João Caninas, sobrinho (neto?) da dona da referida "Pensão Castelo",  e que, pese embora o curso de engenharia electrotécnica, também se dedicaria de corpo e alma à cultura e ao ambiente (chegou a integrar o gabinete de Teresa Patrício Gouveia quando esta foi Secretária de Estado do Ambiente), sendo um dos mais antigos "empresários" portugueses no domínio das avaliações de impactos, com especial incidência na área patrimonial. Por fim uma especial referencia ao Luis Raposo, meu velho colega das lides do Ródão, desde sempre muito focado nos estudos do Paleolítico da Região, que nunca abandonou mesmo quando a prioridade era o levantamento da Arte Rupestre ameaçada pela Barragem do Fratel. E foi graças a essa teimosia que se descobririam sítios que são hoje referencia internacional, como Vilas Ruivas ou o Monte do Famaco, para já não falar do Enxarrique e, por fim em Cobrinhos. Esta última, sem ter as características do Enxarrique (falta-lhe a "fauna" e aparentemente não se encontra "in situ"), parece ser um sítio muito interessante atendendo á imensa recolha de materiais líticos que proporcionou. Com efeito, a circunstancia de ter sido identificada no contexto de importantes obras, permitiu a congregação de meios e métodos pouco vulgares. Dada a urgência da situação e o facto de se comprovar não estar "in situ",  para além das recolhas sistemáticas de superfície (método que no passado ensaiáramos no Monte do Famaco, na sequencia de lavra mecânica) o terreno foi quadriculado, tendo os sedimentos sido recolhidos à máquina (quadrado a quadrado) e posteriormente crivados para recolha dos materiais líticos trabalhados. O que permite agora uma abordagem estatística com resultados certamente interessantes.

A notícia da Foz do Enxarrique é bastante mais recente. Também graças à ARCHPORT tomámos conhecimento que na semana passada, entre quase centena e meia de candidaturas, o projecto de Museologia e Educação no Sítio Arqueológico da Foz do Enxarrique, havia recebido uma Menção Honrosa na 6ª edição do Prémio Ibero-Americano de Educação e Museus. Trata-se de uma candidatura assumida pela Câmara Municipal de Vila Velha de Ródão em parceria com o Centro Português de Geo-História e Pré-História, preparada e executada por uma vasta equipa coordenada pelo Luis Raposo mas em que participaram outros antigos estudantes que no Ródão e mais concretamente no Enxarrique tiveram o respectivo tirocínio, como o Silvério Figueiredo, líder ddo referido Centro de Geo-História. Como antigo responsável por escavações no Enxarrique (julgo que, no âmbito da partilha de responsabilidades entre os membros do GEPP que foram ficando pelo Ródão, me coube iniciar as primeiras escavações neste sítio...) não poderia deixar de aqui deixar este registo. Aqui ficam também alguns documentos associados:

Cobrinhos, A New Mousterian Site in Vila Velha de Ródão (Portugal)

1Telmo Pereira, 2João Caninas,2 Emanuel Carvalho, 3Olívia Figueiredo,4 Francisco Henriques,3 Daniela Maio,2 Cátia Mendes,3 David Nora, 1Eduardo Paixão, 2André Pereira, 5Luis Raposo

1- ICArEHB - Interdisciplinary Center for Archaeology and Evolution of Human Behavior, Universidade do Algarve | 2- EMERITA, Empresa Portuguesa de Arqueologia, Uni. Lda. | 3- NAP – Núcleos dos Alunos de Arqueologia e Paleoecologia, Universidade do Algarve | 4- Associação de Estudos do Alto Tejo | 5- Museu Nacional de Arqueologia

https://www.academia.edu/17273721/Cobrinhos_A_New_Mousterian_Site_in_Vila_Velha_de_R%C3%B3d%C3%A3o_Portugal_





 PROJETO DE FOZ DO ENXARRIQUE RECEBE MENÇÃO HONROSA NO VI PRÉMIO IBERO-AMERICANO DE EDUCAÇÃO E MUSEUS




Foz do Enxarrique musealizado...

http://museunacionaldearqueologia-educativo.blogspot.pt/2015/12/foz-do-enxarrique-em-vila-velha-de.html

Referências anteriores nas Pedras Talhas:

http://pedrastalhas.blogspot.pt/2015/06/glandes-plumbeae-para-os-nao.html

http://pedrastalhas.blogspot.pt/2014/10/o-paleolitico-do-rodao-as-portas-


do.html

Prepearativos para a primeira campanha de escavações na Foz do Enxarrique (1982). Limpeza do terreno e quadriculagem
Enxarrique_ numa fase já bastante mais avançada da escavação, com remoção à maquina de níveis sedimentares estéreis




O terraço do Monte do Famaco, um sítio atribuído ao Acheulense (Paleolítico Inferior) onde se efectuaram no final dos anos setenta recolhas sistemáticas de superfície e sondagens pontuais.



A Maria João Coutinho numa das sondagens do Monte do Famaco, no final dos anos 70.

O Francisco Sande Lemos no Monte do Famaco ( e o seu célebre "Martelo Ge Geólogo" que quase nos levou aos calabouços do Ródão, quando um GNR pouco dado a trabalho científico, o considerou com o "arma de guerra"...)

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