quarta-feira, 9 de março de 2016


PATRIMÓNIO SUSTENTÁVEL e A ARQUEOLOGIA NA CIDADE DE ÉVORA


Debate com os comunicantes da sessão IV (Arqueologia Urbana- cidades romanas versus cidades contemporâneas). Da esquerda para a direita: Carlos Fabião (moderador), Nuno Mota e António Marques (Centro de Arqueologia de Lisboa, CAL); Catarina Coelho e Sofia Gomes (DGPC), António Carlos Silva (DRCALEN) e José António E.Morales (Consórcio Cáceres-Ciudad Histórica)
Por amável convite dos organizadores (Museu Nacional de Arte Romano de Mérida) tive oportunidade de participar nos passados dias 4 e 5 de Março, num seminário internacional sobre a temática da (necessária) sustentabilidade do património cultural. Dois dias de intensa e variada reflexão, a partir da análise de casos concretos, sobre o papel social e (até) económico do património nos territórios da antiga Lusitania Romana, hoje artificialmente divididos por uma fronteira. Museus, turismo arqueológico e desenvolvimento sustentável em áreas rurais, desafios e oportunidades nas cidades contemporâneas fundadas sobre cidades romanas, animação/dinamização do património arqueológico, etc...

A gestão do património arqueológico em ambiente urbano: a experiencia de Évora

Embora, pessoalmente, o tema que de momento mais me interesse, no dia a dia, passe pela reflexão e experimentação das possibilidades de envolvimento comunitário na apropriação do património cultural num meio rural deprimido mas com grande potencial (falo objectivamente das oportunidades que uma pequena freguesia, em nº de habitantes, como Guadalupe e Tourega, podem encontrar e explorar no seu riquissimo património), foi-me pedido que no âmbito da sessão sobre Arqueologia Urbana, falasse da experiencia de Évora. Para além de uma introdução historicista, invocando o papel de André de Resende na criação de uma identidade histórica que perduraria até aos nossos dias, pese embora uma inevitável carga mitológica, recordei a histórica "restauração do Templo Romano", promovida pelos antigos directores da Biblioteca Pública (Cunha Rivara e Augusto Filipe Simões). Em pleno século XIX, numa época em que a lei do camartelo, para desespero de homens como Alexandre Herculano, dizimava o centro das nossas cidades em nome do "progresso", estes homens conseguiram preservar e "restaurar" um monumento que se tornou o ex-libris de Évora. Falei de um Século XX apático no que respeita ao reconhecimento arqueológico da cidade de Évora, até ao 25 de Abril e à posterior instalação de um serviço regional de arqueologia em Évora dependente do IPPC e que criou condições para grandes escavações no Centro Histórico, como as promovidas pelo Serviço Regional de Arqueologia na Rua de Burgos ou em Santa Catarina, ou as promovidas pela autarquia na sua própria sede com a descoberta das Termas Públicas. É nesta altura que Évora teve também a sorte (sabendo criar as condições para isso) de Theodor Hauschild, arqueólogo/arquitecto do DAI (Instituto Arqueológico Alemão) se interessar pelo seu Templo romano e, sobretudo pelo seu Forum, onde realizaria grandes escavações nos anos 80/90. Na minha comunicação, não deixei de reconhecer os problemas e limitações desta fase, estatizante mas fundadora da arqueologia eborense, traduzida sobretudo na falta de publicação adequada dos resultados das escavações e na posterior dispersão dos materiais recolhidos. Também reconheci, que praticamente, mesmo após a euforia dos anos 80, nunca mais se deixou de fazer arqueologia no Centro Histórico, acompanhando toda e qualquer intervenção. Não deixei porém de, na minha perspectiva, apontar as grandes limitações de uma prática de intervenção arqueológica que, actualmente, resulta unica e exclusivamente de imperativos legais, apenas realizada no âmbito da "arqueologia de contrato"(privada) e sem qualquer estrutura pública (da cultura, da autarquia ou da universidade) que se interesse de forma organizada e continuada (e não apenas para objectivos pontuais) pela integração dos novos dados, o tratamento e reserva dos materiais arqueológicos, e o arquivamento e disponibilização dos relatórios, para não falar já da sua publicação. A exemplo do que se passa já hoje em muitas outras cidades históricas que apresentam gabinetes de arqueologia (como por exemplo Lisboa, CAL, que apresentava ainda há poucos anos uma situação identica, apenas mais grave porque respondendo a uma dinâmica urbanística mais exigente) Évora tem necessidade de um "gabinete municipal de arqueologia", que para além da sensibilização cultural e turística, se ocupe de forma continuada e estruturada, de tarefas como: a gestão da informação e registos produzidos; o apoio ao planeamento e gestão urbanística corrente; o apoio directo aos munícipes economicamente mais débeis, a quem são presentes condicionantes arqueológicas à execução de obras; a organização e gestão das reservas arqueológicas e, finalmente, em articulação com outras entidades, a promoção da investigação arqueológica e edição científica de resultados.
Museu de Mérida, um museu á escala de uma grande capital do Império! 

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