quarta-feira, 11 de maio de 2016


"Merveilleux Trésors du Portugal"

Precisamente há 42 anos, coincidindo praticamente com a "revolução democrática do 25 de Abril" (usemos esta expressão para facilitar e simplificar aquilo que, obviamente, foi muito mais complexo), era publicada em França o número de Maio/Junho de 1974 da revista de grande divulgação "Les dossiers de l'Archéologie", inteiramente dedicado a Portugal: "Merveilleux Trésors du Portugal", assim era a chamada da capa, ilustrada por uma joia visigoda, das coleções do Museu Nacional de Arqueologia.
Capa do nº4 Maio-Junho de 1974

A contra capa- Citânia de Briteiros

Então no quarto ano de História da Faculdade de Letras e já decididamente encaminhado para a área de Arqueologia (participava desde 1971 nas campanhas do Tejo e em 1973 tivera o meu "baptismo internacional", participando nas escavações de Pincevent, dirigidas pelo mestre André Leroi-Gourhan), não deixei de adquirir um exemplar da revista, que ainda conservo mas um pouco mal tratado, e que poderá já considerar-se uma verdadeira relíquia arqueológica, a vários títulos...
Vale a pena olhar com atenção para o índice dos autores, para se ter uma sensação de um mundo em "transição". Por um lado toda uma "velha guarda" (pela qual tenho o maior respeito e com quem tive a sorte de ainda muito ter aprendido), mas aparecendo já um ou outro nome que, estando então a despontar na Aqueologia portuguesa, muito viriam ainda a contribuir para a verdadeira revolução que se viria a operar, sobretudo a partir de 1980, naturalmente com algum atraso relativamente às transformações políticas de 74. Não deixa de ser curioso recordar que, seria sob este mesmo tema dos "Tesouros Arqueológicos" que o Museu Nacional de Arqueologia reabriria as suas portas em Dezembro de 1980, já sob a direcção de Francisco Alves, assinalando-se com esse acto, a entrada em cena de toda uma geração de jovens arqueólogos que chamara para consigo colaborarem e que marcariam a arqueologia portuguesa nas décadas seguintes. Mas esse é naturalmente assunto para próximas entradas neste blog.

A par de nomes já então claramente em fim de carreira (como Fernando de Almeida) ou rapidamente descontextualizados pela aceleração do tempo (como Zbyszewski, Farinha dos Santos ou Maria Amélia Horta Pereira), encontramos já nomes que ainda muito viriam a contribuir (ainda contribuem) para a Arqueologia portuguesa, como Jorge e Adília Alarcão, Joaquina Soares ou Carlos Tavares da Silva). Eduardo da Cunha Serrão, não sendo um arqueólogo de carreira, era neste contexto, um "testa de ferro" de toda uma nova geração que então ainda despontava mas que não tinha direito á ribalta, no sistema de "baronato" que imperava na Arqueologia nacional.  Jean Roche e Robert Etienne, de idades e escolas diversas, eram a face
visível da tradicional cooperação luso-francesa que durante décadas, era o "farol" quase exclusivo da paroquial arqueologia portuguesa e que não podia deixar de marcar presença numa edição gaulesa.
Como exemplo da qualidade do grafismo e dos conteúdos da revista que nos proporcionava à época uma rara e actualizada visão geral sobre o estado dos conhecimentos arqueológicos em Portugal, aqui reproduzimos o artigo de Eduardo da Cunha Serrão sobre a "Arte Rupestre do Vale do Tejo", então extremamente oportuno por variadas razões. Com efeito, poucas semanas antes do 25 de Abril, coincidindo com o anúncio da publicação do livro do General Spínola (Portugal e o Futuro) que prenunciava os tempos novos que se aproximavam, as comportas da Barragem do Fratel eram fechadas iniciando-se o "afundamento" daquele importantissimo complexo rupestre. ver aqui o post em causa

















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