segunda-feira, 15 de maio de 2017



Caminhando em terras de Menires e Antas


Em poucas regiões de Portugal, estarão reunidas condições tão propícias a um desenvolvimento sustentado de um turismo que concilie a Natureza e o Património arqueológico, como se verifica nas terras da Tourega e de Guadalupe. A beleza do montado, transforma-se neste território num cenário deslumbrante para os vestígios megalíticos, testemunhos que subsistem da presença dos primeiros agricultores e pastores que dominaram esta região há mais de 5 000 anos, convidando à sua descoberta através dos velhos caminhos rurais. Algumas dificuldades, porém, dificultam um melhor aproveitamento deste recurso que, naturalmente, precisa de um mínimo de enquadramento e de infra-estruturas, para poder funcionar como um produto atrativo para quem por aqui passa a caminho de Évora. Desde logo, as condições climatéricas que no pino de Verão, com temperaturas a rondar os 40º, não aconselham muito a actividade pedestre. Mas a grande dificuldade reside na estrutura da grande propriedade fundiária e dos seus actuais modelos de exploração. Tradicionalmente espaços abertos, virados sobretudo para a silvicultura, onde se circulava livremente através de caminhos centenários, nas últimas décadas conheceram mudanças radicais. Finda a Reforma Agrária muitas destas propriedades trocaram de mãos, e os novos proprietários, com pouca ou nenhuma relação com os meios e as tradições locais, acabariam por fazer tábua rasa de direitos adquiridos de serventia ou de passagem. Até porque, na verdade, muitos daqueles caminhos, com o despovoamento e o fim da actividade agrícola tradicional, deixaram efectivamente de ter "serventia"... Não é fácil nestas condições, definir, sinalizar ou estabelecer percursos de circulação pedestre que permitam a visita a sítios ou monumentos, muitos deles até classificados como "nacionais" ou de "interesse público", quando estes se localizamk em propriedades actualmente completamente vedadas.

Ainda assim, e face ao interesse crescente que alguns daqueles monumentos despertam junto de um público alargado, a União de Freguesias da Tourega e de Guadalupe, tenta actualmente encontrar um percurso que, apesar daquelas condições pouco favoráveis, possa ser vaibilizado futuramente. Nesse sentido, em colaboração com uma empresa que é pioneira nestas actividades (e que há quase duas décadas organiza com alguma regularidade caminhadas nesta região), realizou-se no passado sábado, 13 de Maio, um passeio cujo percurso unia três locais paradigmáticos da Pré-história alentejana: Anta Grande do Zambujeiro, Castelo do Giraldo e Cromeleque dos Almendres. 


Trata-se de um percurso bastante longo, cerca de 20 quilómetros, com algum grau de dificuldade na subida ao Giraldo, mas com possibilidades de um enquadramento logístico interessante. A partida é feita de Guadalupe, onde é possível deixar as viaturas em segurança e onde há algum apoio comercial. Perto do meio do caminho, atravessa-se Valverde, que oferece uma área de merenda e descanso, antes da subida ao Giraldo. O percurso tem a grande vantagem de ser circular, pois após a visita ao Cromeleque e ao Menir dos Almendres, termina de novo em Guadalupe. Uma experiência a repetir, em fim de semana menos mediático de preferencia e, se possível, a institucionalizar em futuro próximo através da Federação de Campismo e Montanhismo de Portugal,  uma vez conseguida a colaboração de alguns proprietários. É que, apesar de "aberto", parte deste percurso é feito através de serventias e caminhos no interior de propriedades privadas.
O "briefing" antes da partida de Guadalupe

Saindo para o campo

Passando junto ao moinho de vento, estrutura de moagem que serviria de alternativa em caso de falta de água, ao "Moinho da Carreira", uma antiga "azenha", onde hoje se localiza um das "tascas" de Guadalupe
A "Horta do Moinho da Ponte", ainda hoje cultivada por um idoso de Guadalupe, próximo do que resta de mais uma azenha e da casa do moleiro. Entre Guadalupe e Valverde, num percurso de poucos quilómetros, existiam pelo menos 5 moinhos, testemunhos de um regime hidrológico certamente mais intenso. Hoje a Ribeira fica praticamente seca no Verão e os moinhos estão abandonados há quase um século. Já ninguém se lembra de os ver a funcionar.


A "Ponte Antiga", na antiga estrada entre Évora (Perananca) e a Boa Fé. Classificada e recuperada há década e meia, necessita de urgente controle da vegetação que a cobre. Estrutura do Século XVI, dá o nome ao moinho vizinho...
Passagem no Monte das Figueiras, a caminho da Anta Grande do Zambujeiro

A gigantesca "mamôa" da Anta Grande do Zambujeiro, vista de Norte
Um dos mais extraordinários monumentos pré-históricos nacionais (a Anta Grande do Zambujeiro) em eminente colapso estrutural. Sem menosprezar o acta de vandalismo o recentemente verificado no Côa  e que tantas notícias provocou, não se compreende que, a situação deste monumento (apesar de repetidamente denunciada localmente) não provoque uma "comoção" semelhante.

Já a caminho de Valverde através da Herdade da Mitra (Universidade de Évora)

Como é difícil não tropeçar nos "romanos", um marco miliário recordando que, algures por aqui perto passaria a estrada romana que unia Ebora ao porto de Salatia (Alcácer do Sal) e que serviria também a grande "villa romana da Tourega"
Cruzando a Ribeira à entrada de Valverde. Infelizmente a velha "venda" que ali nos recebia já fechou há algum tempo...

Área de descanso antes da subida ao Giraldo

Área de descanso antes da subida ao Giraldo

Na subida para o Giraldo, o novo cemitério de Valverde, projectado pelo Arquitecto José Luis Quitério e construído nos anos 80 do século passado para evitar o alargamento do antigo cemitério da Tourega com inevitáveis impactos sobre as ruínas romanas vizinhas

O impropriamente designado Castelo do Giraldo. De facto existem vestígios de uma muralha medieval, criando um recinto com os grandes blocos graníticos que existem no cume da colina. Escavações de Afondo do Paço e Fernandes Ventura no final dos anos 50, mostraram que este sítio, pela sua localização, teve ocupação desde a Idade do Cobre até à Idade do Ferro. Deverá estar relacionado com o vizinho Povoado da Corôa do Frade, com ocupação importante cerca de 1000 anos antes de Cristo.

Mais do que se pode ver no local, a subida ao Giraldo vale pelo magnífico panorama que se desfruta a Nascente. Na imagem, a Barragem da Tourega e o antigo cemitério da Tourega marcado por dois enormes ciprestes, e em último plano a colina de São Vicente sobre Viana do Alentejo

No cruzamento das Herdades, já na linha de cumeeira onde se localizam os Almendres. Mas ainda faltavam uns quilómetros para chegar ao Cromeleque
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A "Cruz do Preto", já muito próximo do Cromeleque. Um marco geodésico antigo (Século XIX, campanhas de levantamento cartográfico do General Filipe Folque?). Deve o nome a uma curiosa lenda que refere a fuga de um escravo negro da Mitra do qual só terão aqui aparecido as "botas". Há duas versões do final da lenda. Segundo uma teria sido devorado pelos loboas, segundo outra, teria deixado as botas para despistar eventuais perseguidores...


Já nos Almendres
E no Menir

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De regresso a Guadalupe, cerca de 20 quilómetros depois...

Uma ajuda para quem estiver interessado

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